domingo, dezembro 21, 2008

Cristianismo Pagão - Parte 2

Como cristãos, somos ensinados por nossos líderes a crer em certas idéias e nos comportar de determinada maneira. Temos a Bíblia, claro. Mas estamos condicionados a lê-la com as cômodas lentes da tradição cristã à qual pertencemos. Nos ensinaram a obedecer nossa denominação (ou movimento) e jamais desafiar tais ensinos.

(Neste momento todos os corações rebeldes estão aplaudindo e tramando usar os parágrafos anteriores para criar estragos em suas igrejas. Se este é o seu caso, querido coração rebelde, quero acrescentar algo para você em minha introdução. Longe de recomendar que faça isso, meu conselho é: Deixe sua igreja silenciosamente para não causar divisões ou viva em paz com ela. Há uma grande distancia entre adotar uma postura rebelde e ficar do lado da verdade).

A verdade é que nós cristãos nunca colocamos em dúvida aquilo que fazemos. Pelo contrário, cumprimos alegremente nossas tradições religiosas, sem verificar de onde elas vieram. A maioria dos cristãos que afirma apoiar-se na Palavra de Deus nunca investiga se aquilo que faz a cada domingo tem base bíblica. Como sei isto? Porque se eles investigarem chegarão a conclusões bem incômodas. Conclusões que compeliriam suas consciências a abandonar tudo que fazem. (...)

Nas próximas páginas você ficará atônito quando descobrir que aquelas coisas que nós, cristãos, fazemos nas manhãs de domingo, não vieram de Jesus Cristo, dos Apóstolos ou das Escrituras. Nem mesmo vieram do Judaísmo. Sendo mais específico, a maior parte daquilo que fazemos na “igreja” foi absorvido diretamente da cultura pagã no período pós-apostólico. Sendo mais específico, a maior parte das nossas práticas eclesiásticas foi introduzida durante três períodos de tempo: Após Constantino (324 a 600), no tempo da Reforma (século XVI), e na era do Revivamento (séculos XVIII e XIX). (...)

LITURGIA

A Origem da Liturgia Protestante

Os pastores falam rotineiramente a suas congregações, “fazemos tudo conforme a Bíblia”, contudo, praticam esta férrea liturgia. Eles não agem corretamente. (Acredito que esta falta de veracidade deve-se mais à ignorância do que à má fé).
Verifique sua Bíblia do começo ao fim, você não encontrará nada semelhante a isso. Os cristãos do século I nada sabiam sobre tais coisas. Na realidade, essa liturgia protestante tem tanto apoio bíblico quando à Missa católica! Nenhuma das duas tem qualquer ponto de contato com o N.T.

Era um encontro fluido, não um ritual estático. E era imprevisível, bem diferente do culto da igreja moderna. Ademais, a reunião da igreja do século I não foi adotada dos cultos da sinagoga judaica, como alguns autores têm recentemente sugerido. Pelo contrário, era totalmente inédita naquela cultura.

Então, de onde vem a liturgia do culto protestante? Esta tem suas raízes principais na Missa Católica. A Missa não teve origem no NT e isso é significativo. A Missa saiu do antigo Judaísmo e do paganismo.

Gregório O Grande (540-604) é o homem mais responsável pela formação da Missa Medieval. Gregório foi um homem incrivelmente supersticioso, cujo pensamento foi influenciado pelos conceitos mágicos dos pagãos. Ele personificou a mente Medieval, que era uma mistura de paganismo, magia e cristianismo. Não é uma casualidade quando Durant descreve Gregório como “o primeiro homem completamente Medieval”.

A Missa Medieval refletia a mente de seu padre, Gregório. Foi uma combinação de rituais pagãos e judaicos borrifados com teologia católica e vocabulário cristão. Durant destaca que a Missa estava profundamente mergulhada tanto no pensamento mágico pagão como no drama grego. (...)

Quando as mais variadas denominações protestantes nasceram, todas ajudaram a reformar a liturgia católica contribuindo com um único elemento. No que toca à crônica da reforma litúrgica, trata-se de uma vasta e complexa jornada. Aprofundar nesse tema requer um grosso volume. Neste capítulo, examinaremos a história básica. Depois que Gregório estabeleceu a Missa no século VI, esta permaneceu praticamente intacta, com poucas variações durante mais de mil anos. Mas essa água parada da liturgia experimentou sua primeira revisão quando Martinho Lutero entrou em cena (1483-1546). (...)

Em suma, as maiores mudanças duradouras feitas por Lutero na Missa Católica foram as seguintes:
(1) Ele realizou a Missa na linguagem do povo.

(2) Deu ao sermão uma posição central na reunião.

(3) Ele introduziu a música na congregação.

(4) Ele eliminou a idéia de que a Missa era um sacrifício de Cristo.

(5) Permitiu que a congregação participasse no pão e no vinho (em vez de limitá-los exclusivamente ao sacerdote como faz a prática católica.)

Aparte destas diferenças, Lutero manteve a mesma liturgia como se vê na Missa Católica!

Zwinglio (1484-1531), o reformador suíço, aos poucos introduziu sua própria reforma, que ajudou a desenhar a ordem de adoração de hoje. Ele substituiu a mesa do altar por algo chamado “mesa da comunhão”, onde se ministrava o pão e o vinho. Ele também ordenou que se levasse o pão e o vinho à congregação em seus bancos utilizando bandejas de madeira e taças.

A maioria das igrejas protestantes tem tal mesa. Originalmente a mesa continha duas velas, um costume que veio diretamente da corte dos Imperadores Romanos! A maioria leva o pão e o vinho à congregação sentada em seu banco.
Zwinglio também recomendou que a Santa Ceia fosse observada trimestralmente (quatro vezes por ano). Fez isso em oposição ao tomá-la semanalmente como os outros reformadores haviam recomendado. Muitos protestantes imitam a observação trimestral da Santa Ceia hoje. Alguns a observam mensalmente. (...)

As Contribuições dos Metodistas e do Evangelismo Fronteiriço

Os séculos XVIII e XIX trouxeram novidades para o protestantismo americano. Foi quando surgiram os populares cultos do Evangelismo Fronteiriço estadunidense. Durante estes séculos, estes cultos influenciaram grandemente a ordem de adoração em muitas igrejas. Eventualmente, estes foram injetados nas principais correntes do Protestantismo estadunidense. Vejamos as mudanças duradouras resultantes dos Revivalistas Fronteiriços.

Primeiramente, os evangelistas fronteiriços alteraram a meta da pregação. Sua meta exclusiva era a conversão de almas. Dentro da cabeça do evangelista, não havia outra coisa no plano de Deus a não ser a salvação. Esta ênfase teve sua origem na pregação inovadora de George Whitefield (1714-1770).

Whitefield foi o primeiro evangelista moderno a pregar ao povo ao ar livre. Ele deslocou a ênfase da pregação do plano de Deus para a Igreja, para a pregação do plano de Deus para o indivíduo. A noção popular de que “Deus ama você e tem um plano maravilhoso para sua vida” foi introduzida por Whitefield.

Em segundo lugar, a música do evangelho fronteiriço falava à alma e visava propiciar uma resposta emocional à mensagem da salvação. Todos os evangelistas famosos tinham músicos em sua equipe justamente para este propósito. A adoração passou a ser um espetáculo. Esta mudança de ênfase foi adotada pelos Metodistas, e começou a penetrar em muitas outras subculturas protestantes.

Seguindo a trilha dos revivalistas, o culto metodista passou a ser o meio para obter o fim. A finalidade do culto já não era mais a simples adoração a Deus, os crentes foram instruídos a ganhar novos crentes individuais. Os sermões abandonaram a temática da “vida real” para proclamar o evangelho ao perdido. Toda humanidade foi dividida em dois desesperados campos polarizados: perdido ou salvo, convertido ou incrédulo, regenerado ou condenado.

A teologia do revivalismo não demonstrava uma compreensão do propósito eterno de Deus nem de seu Plano para com a Igreja. Os cânticos metodistas foram desenhados para amolecer os corações duros dos pecadores. A poesia começou a refletir tanto a experiência individual de salvação como o testemunho pessoal. Charles Wesley (1707-1788) é tido como o primeiro a escrever hinos de apelo.

Os pastores que dirigem seus sermões dominicais pela manhã exclusivamente para ganhar os perdidos refletem a influência revivalista. Esta influência penetrou na maioria dos evangelistas da televisão e do rádio. Muitas igrejas protestantes (não somente Pentecostal e Carismática) iniciam seus cultos com calorosos cânticos para preparar as pessoas para o sermão emocional dirigido aos perdidos. Mas poucos sabem que esta tradição começou com os evangelistas fronteiriços há pouco mais de um século.

Em terceiro lugar, os Metodistas e os Evangelistas Fronteiriços deram luz ao “apelo”. Esta novidade começou com os Metodistas no século XVIII. Esta prática de convidar pessoas que desejam orações a colocar-se de pé e vir à frente para recebe-las surgiu de um evangelista Metodista chamado Lorenzo Dow. (...)

Talvez o elemento mais dominante proporcionado por Finney ao moderno cristianismo foi o pragmatismo. Por pragmatismo quero dizer a crença de que se algo funciona ou dá resultados, então deve ser apoiado ou aceito. Finney acreditava que o NT não ensinava nenhuma forma determinada de adoração. Ele ensinava que o único propósito da pregação é ganhar almas. Qualquer mecanismo que ajudasse atingir esta meta poderia ser aceito. Sob Finney, o evangelismo do século XVIII se converteu em uma ciência e foi integrado à corrente principal das igrejas.

O cristianismo moderno nunca se recuperou desta ideologia antiespiritual. É o pragmatismo, não a Bíblia ou a espiritualidade, que governa as atividades da maioria das igrejas modernas. (Posteriormente as igrejas atentas aos seus “índices de audiência” foram além de Finney). O pragmatismo é daninho porque ensina que “os fins justificam os meios”. Se o fim é considerado “santo”, qualquer “meio” é válido.

Por estas razões Charles Finney é aclamado como “o reformador litúrgico mais influente na história dos Estados Unidos”. Do ponto de vista protestante, é necessário que a doutrina esteja rigorosamente de acordo com as escrituras para poder ser aceita. Mas pela prática da igreja, tudo é válido desde que resulte em novas conversões!

Em todos os aspectos, o Evangelismo Fronteiriço Americano converteu a igreja em um ponto de pregação. Restringindo a experiência da ekklesia a uma missão evangelística. Isto normatizou os métodos revivalísticos de Finney e criou personalidades do púlpito como a atração dominante. A igreja passou a ser uma questão de preferência individual em vez de ser uma questão coletiva.

Em outras palavras, a meta dos Evangelistas Fronteiriços era levar pecadores individualmente a uma decisão individual por uma fé individualista. Como resultado, a meta da Igreja Primitiva — a edificação mútua e o funcionamento de cada membro manifestando Jesus Cristo coletivamente diante dos principados e potestades — perdeu-se completamente. Ironicamente, João Wesley, um dos primeiros revivalistas, compreendeu os perigos do movimento revivalista. Ele escreveu que “o cristianismo é essencialmente uma religião social [...] transformá-lo em uma religião solitária é certamente sua destruição”.

O último tempero que o Revivalismo Fronteiriço agregou à liturgia protestante foi fazer o “apelo ao altar” após um hino. Esta é a liturgia que domina o protestantismo estadunidense hoje. Surpreendentemente, a liturgia pouco mudou desde a invenção da Missa Alemã por Lutero há quatro séculos atrás. Com a invenção do clichê multicopista de Alberto Blake Dick (1856-1934), a liturgia passou a ser impressa em boletins. Foi assim que nasceu o famoso “Boletim Matinal Dominical!”. (...)

A Contribuição Pentecostal

Inaugurado por volta de 1906, o movimento Pentecostal deu-nos uma expressão mais emotiva através dos cânticos entoados pela congregação. Estes incluíam mãos levantadas, danças entre os bancos, bater palmas, falar em línguas e o uso de pandeiros. A expressão Pentecostal soava bem com sua ênfase sobre a função extasiante do Espírito Santo.

O que poucas pessoas sabem é que suprimidas as características emotivas do culto Pentecostal, surge algo idêntico à liturgia batista. Assim, pois, não importa quão fortemente o Pentecostal afirme que ele está seguindo o modelo do NT, o Pentecostal e o Carismático seguem a mesma liturgia como fazem os demais protestantes. Um Pentecostal meramente tem mais espaço para mover-se ao derredor de seu assento! (...)

A maneira como reportam os cultos especiais é fascinante. Os membros tipicamente descrevem esta ruptura da liturgia normal dizendo, “O Espírito Santo dirigiu nossa reunião esta semana. O Pastor Buxman não teve a oportunidade de pregar”. É interessante que ninguém ousa perguntar, “mas o Espírito Santo não precisa dirigir todas nossas reuniões?” Hmmmm...

Mesmo assim, pelo fato de haver nascido no resplendor crepuscular do Evangelismo Fronteiriço, a adoração Pentecostal é altamente subjetiva e individualista. Na mente do Pentecostal, a adoração a Deus não é um assunto coletivo [o corpo da igreja], mas uma experiência individual [o membro da igreja]. Com a penetrante influência do movimento carismático, esta obsessão de adoração individualista infiltrou-se na grande maioria das tradições protestantes. (...)

Que há de Errado Nesse Quadro?

Naturalmente, é lastimoso que a liturgia protestante não tenha se originado com o Senhor Jesus, os Apóstolos, nem com as Escrituras do NT Esse fato, por si só, não significa que tal ordem esteja equivocada. Simplesmente significa que não tem base bíblica.

O uso de cadeiras e grossos tapetes tampouco têm apoio bíblico. Ambos foram inventados pelos pagãos. Mas quem disse que sentar em uma cadeira ou utilizar grossos tapetes é “ruim” pelo simples fato de ser uma invenção pós-bíblica dos pagãos?

A realidade é que muitas coisas que fazemos em nossa cultura têm raízes pagãs. Considere nosso calendário. Os nomes dias da semana e dos meses do ano são homenagens a deuses pagãos. Mas, o uso do calendário não torna ninguém pagão. (...)

Em segundo lugar, a ordem protestante de adoração estrangula a direção de Jesus Cristo!

O culto inteiro é dirigido por um homem. Onde está a liberdade para que nosso Senhor Jesus fale através de Seu Corpo a qualquer momento? De que forma, na liturgia, Deus poderá dar a um irmão ou irmã uma palavra para compartilhar com toda congregação? A ordem de adoração não permite tal coisa. Jesus Cristo não tem a liberdade de expressar, através de Seu Corpo, Sua direção. Ele é mantido cativo por nossa liturgia! Ele também é transformado em um espectador passivo!(...)

(Cristianismo Pagão - Frank Viola)

2 comentários:

  1. Vou abordar esse assunto muito em breve e esse post foi de grande auxílio para minhas pesquisas.
    Nunca imaginei que pudesse encontrar tantas coisas boas... mas faz sentido que seja assim: é mais fácil descobri cristãos verdadeiros debaixo de uma jabuticabeira do que dentro da maioria das igrejas!
    Deus a abençoe com sabedoria e saúde!

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  2. Irmão Teóphilo, continuarei a postar outras partes selecionadas do livro "Cristanismo Pagão". Mas o interessante é ler o livro todo do Frank Viola. Saiba que seus textos no site teophilo.info me ajudaram e muito! Obrigada pela mensagem e que Deus também o abençoe muito!

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