quarta-feira, abril 15, 2009

Ser ou Não Ser, Eis a Questão!

Vocês são a luz do mundo.
Portanto, se a luz que está dentro de você são trevas,
que tremendas trevas são!
Jesus Cristo


O título que encima este artigo é a tradução de “To be or not to be; this the question” da obra do dramaturgo e poeta inglês, William Shakespeare (1564-1616).

Na página 3 do MeuBoletim n. 2, transcrevi algumas opiniões de leitores sobre o meu livrete*, dentre as quais a de um evangélico que me criticou pela minha maneira de criticar os evangélicos. (Parece que ele nem se deu conta de que também como evangélico estava criticando um evangélico!).

O Senhor Jesus disse que os seus discípulos seriam a luz do mundo, e que essa luz deveria brilhar diante dos homens, para que vissem as suas boas obras e glorificassem o Pai que está nos céus.

Nós, evangélicos, ou crentes, estamos convictos de que somos o povo de Deus aqui na terra; de que somos a luz do mundo. Achamos até que somos os tais. Pois não se canta uma canção nesse rumo: Um dos tais, um dos tais, podes tu também dizer sou um dos tais? Mas que diferença estamos fazendo? O mundo está nos vendo como luz de Deus aqui na terra e, por nossa causa, está glorificando o Pai que está nos céus? Ou a luz que deveria estar em nós enuviou-se, tornou-se trevas?

Quando critico os evangélicos, faço-o de cátedra, pois me incluo nesse grupo desde os dezoito anos de idade, ou seja, desde quando deixei o catolicismo romano, em 1953. Já se vão 54 anos. De vez em quando, dou um balanço no que tenho visto no meio dos evangélicos! É de estarrecer! Se eu fosse narrar as muitas peças que muitos evangélicos me têm pregado, nesse meio século, não caberiam numa edição inteira do MeuBoletim.

● Quando comecei minhas atividades como corretor de imóveis, em 1971, e abri uma imobiliária, um evangélico quase me levou à falência, pois não pagou os aluguéis. Aluguei-lhe duas salas sem boas garantias, por confiar nele. Afinal, ele tinha boas referências. Além de evangélico, tinha sido administrador de cidades satélites, era engenheiro e empresário. E sabe de uma coisa? Nesse tempo eu morava de aluguel num pobre barraco de madeira, longe do escritório, e tinha de ir e vir a pé de manhã, no horário do almoço e à tarde, porque não tinha dois cruzeiros para pagar a passagem do ônibus. Mas mesmo assim eu tinha de arranjar dinheiro para pagar em dia o aluguel dele à proprietária das salas, para poder cumprir o meu compromisso com ela, além do meu próprio aluguel, alimentar quatro filhos e ajudar os meus pais.

Um advogado amigo (não evangélico) me socorreu, e entrou com a ação de despejo contra ele, sem me cobrar honorários. Ele não purgou a mora e a ação foi julgada procedente, e foi decretado o seu despejo. Nessa hora, ele veio correndo me pedir penico. Condoído, fiz um acordo com ele e deixei de executar a sentença de despejo, mas ele não cumpriu a sua parte no acordo.
Somente muitos anos depois, seu irmão veio acertar a pendência comigo, para poder levantar a falência dele.

● O pastor evangélico alugou uma loja de duas portas, para ali funcionar uma igreja. Um belo dia, ele fechou a igreja e se mandou para Maringá, PR. De lá, mandou as chaves pelo correio, mas não o pagamento dos aluguéis atrasados. Mandei-lhe duas cartas de cobrança, que resultaram em nada, pois não obtive nem resposta. E pelo telefone, não consegui passar da secretária. Aí, me lembrei de um amigo advogado (evangélico) que morava em Maringá. Ajuizei a execução, e ele cumpriu a carta precatória para mim. A igreja somente pagou o débito quando o oficial de justiça foi fazer a penhora dos seus bens.

● A irmã se apresentou como obreira de uma igreja evangélica e o seu marido, motorista do pastor. Alugou o imóvel residencial, mas deixou de pagar os aluguéis. Quando cobrada, abandonou o imóvel, mas não devolveu as chaves nem pagou os aluguéis atrasados. Ajuizei a ação de despejo e, verificado o abandono do imóvel, o juiz imitiu o proprietário na sua posse. Mas ela contratou advogado e contestou a ação, mentindo deslavadamente que havia feito a devolução das chaves a mim. (Com isso ela me ofendeu!). Para a audiência, ela indicou duas testemunhas. Eram duas moças evangélicas, simples e de cabelos compridos como os dela. Feitas as perguntas de praxe à primeira testemunha, e tendo ela declarado que presenciou a entrega das chaves, o Magistrado me deu a palavra para a inquirição.

Limitei-me a perguntar onde ela tinha ido para entregar as chaves. Sabe o que ela respondeu? — Cobriu o rosto com as mãos, abaixou a cabeça e emudeceu! Veio a segunda testemunha. Aí, feitas as perguntas de praxe, e tendo ela também declarado que presenciou a entrega das chaves, o Juiz mesmo lhe fez a dita pergunta. Sabe o que ela respondeu? — Cobriu o rosto com as mãos, abaixou a cabeça e emudeceu! A essa altura, o advogado dela, coitado, ficou corado e de cabeça baixa, diante da barafunda aprontada por aquele “trio parada dura”.

Após isso, ajuizei a execução. Mas ela não pagou nem apresentou bens à penhora. O único imóvel do seu fiador, um modesto evangélico (batista), foi penhorado e levado à praça; isto é, vendido em leilão. Ainda bem que ele conseguiu fazer a remição, senão ele teria de ir morar debaixo de um viaduto, que naquele tempo era muito escasso no Distrito Federal!


● O pastor evangélico (que Deus o tenha!) foi apresentado como fiador por sua empregada. Eu o conhecia: era escritor, conferencista, diretor de colégio evangélico, membro de um Conselho importante no Governo. Enfim, gente confiável! Quando teve de responder pela fiança, negou-se a fazê-lo, alegando — vejam só! — que ele assinara o contrato de locação somente “pro forma”! Quando o oficial de justiça foi penhorar a sua caminhonete, ele pagou a dívida da sua afiançada, na “forma” da lei!

E sabe de uma coisa? Não tenho mágoa de ninguém! Para mim foi um aprendizado. Duro, penoso, mas aprendi muito.
Talvez você justifique tudo isso dizendo: É, mas todo mundo faz assim. Pode ser verdade, mas “todo mundo” não anda dizendo por aí que é a luz do mundo; que nasceu de novo, que é nova criatura.

Afinal, que luzes são essas? Esse descalabro evangélico chegou a tal ponto que meu sócio achou que, quando o pretendente à locação fosse evangélico, deveríamos tomar mais cuidado, e exigir maiores garantias! Isso me entristeceu muito!

Ora, de uma forma ou de outro, nós evangélicos estamos sempre criticando o mundo e, indiretamente, estamos dizendo que somos melhores do que as demais pessoas. Seja num testemunho pessoal, seja pregando no púlpito, no rádio, na TV. No apelo à conversão, estamos dizendo às pessoas que elas estão erradas, perdidas, e que, portanto, se arrependam, se convertam. Em outras palavras, que se tornem certinhas como nós! Entendo que para podermos criticar o mundo devemos nos criticar primeiro. Não foi mais ou menos isso que o Senhor Jesus quis dizer quando exortou: Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então verás claramente para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão?

E de lá para cá, não vi nenhuma melhora! E precisamos fazer a diferença. Fico temeroso de que um o dia o termo evangélico passe a figurar nos dicionários com um significado muito desairoso. Evangélico: indivíduo caloteiro, enganador, hipócrita, mau pagador, mentiroso, santarrão, trapaceiro, vigarista! Será que foi por causa disso que um vizinho do meu irmão costumava dizer, referindo-se a um evangélico: “Daquele ali, senhor N., só se aproveita o versículo”?

E tenho muitas outras histórias para contar. Algumas até documentadas em foto.
A turma do deixa disso costuma dizer: Deixa pra lá. Mas não está escrito que “um pouco de fermento leveda toda a massa”?
Quer saber de uma coisa? Acho que sou meio pancada — será que é de tanto levar pancadas de evangélicos? Devo ser mesmo, pois já escrevi uma carta a um cão policial, ao Presidente da República e ao Senhor Jesus Cristo! (Mas aí, são outros causos). E quando vou fazer um cadastro numa empresa, num banco, após informar aqueles dados de praxe — nome, endereço, números de telefone, CI e CPF, rendimentos etc. —, faço questão de escrever: “Nota: Aos 18 anos, aceitei observar os ensinamentos de Jesus Cristo. Destaco dentre eles o que diz: “Seja o vosso falar: Sim, sim; não, não; pois tudo o que passa disso, vem do maligno” (Mt. 5.37). Se em algum momento eu me desviar deles, corrija-me, por favor, e ajude-me a retornar ao caminho certo. Obrigado”.

Confesso que, se eu tivesse a autoridade de um profeta, sairia por aí dizendo a alguns evangélicos que conheço (pastores e leigos): Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus. Raça de víboras... Produzi frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer entre vós mesmos: somos pastores, somos levitas, somos crentes, membros da igreja tal... Hipócritas! Limpais o exterior do copo e do prato, mas estes por dentro estão cheios de falsidade, de azedume e desamor...

Ou somos, ou não somos a luz do mundo. Eis a questão!

Por Venefredo Barbosa Vilar

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