domingo, janeiro 04, 2009

Cristianismo Pagão - Parte 5

O PASTOR

Ele é a figura fundamental da fé protestante. Ele é o chefe da cozinha, o cozinheiro e o lavador de pratos do cristianismo de hoje. O pastor é tão predominante nas mentes da maioria dos cristãos que, na realidade, ele é mais bem conhecido, mais louvado, mas mais confiado do que o próprio Jesus Cristo!

Remova o pastor e o moderno cristianismo entra em colapso. Remova o pastor e cada igreja protestante virtualmente entrará em pânico. Remova o pastor e o protestantismo como o conhecemos morre. O pastor é o ponto focal dominante, a base e a peça central da moderna igreja. Ele incorpora o cristianismo protestante.

Mas há aqui uma profunda ironia. Não há um só versículo em todo NT que apóie a existência do moderno pastor dos nossos dias! Ele simplesmente nunca existiu na igreja primitiva.
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(Note que eu utilizo o termo “pastor” ao longo deste capítulo para descrever o moderno ofício e papel que ele desempenha. Eu não me refiro ao indivíduo específico que exerce este papel. Aqueles que exercem o ofício de pastor são pessoas maravilhosas. Eles são honrados, decentes e muitas vezes cristãos dedicados que amam a Deus, zelosos em servir Seu povo. Mas é ao papel que eles estão cumprindo que a Bíblia e a história da igreja se opõem. (...)

E ele deu alguns como Apóstolos, alguns como profetas, alguns como evangelistas e alguns como PASTORES e professores (Efésios 4:11, NASB), [ênfase minha].

Pode-se fazer as seguintes observações acerca deste texto.

Este é o único versículo no NT onde a palavra “pastor” é usada. Um verso solitário é uma peça sumamente escassa de prova para dependurar toda a fé protestante! Aliás, há mais autoridade bíblica no ato de pegar serpentes com as mãos do que na posição de pastor. (Marcos 16:18 e Atos 28:3-6 mencionam as serpentes. Então pegar serpentes com as mãos ganha com dois versos contra um).

A palavra é usada no plural, ou seja, “pastores”. Isto é significativo. Sejam lá quais forem estes “pastores”, eles são plurais na igreja, não singulares. Assim, pois, não há qualquer suporte bíblico para a prática do Sola Pastora (pastor único).

A palavra grega traduzida por “pastores” é poimen que significa pastores. ("Pastor” é a palavra latina para aquele que pastoreia). Portanto, “Pastor” é uma metáfora que descreve uma função específica na igreja. Não é uma profissão nem um cargo. Um pastor do século I nada tem a ver com o sentido especializado e profissional que veio a ter na moderna cristandade. Assim, pois, Efésios 4:11 não se refere a um cargo pastoral, mas meramente a uma das muitas funções na igreja. Pastores são aqueles que naturalmente provêem nutrição e cuidado às ovelhas de Deus. Porém, é um profundo erro confundir pastores com um ofício ou título como comumente se concebe hoje. (...)

Donde você supõe que os cristãos adquiriram seu padrão de ordenação? Eles copiaram sua cerimônia de ordenação do costume romano de designar homens ao serviço civil. Todo o processo, cada palavra, saiu diretamente do mundo cívico romano. (...)

A moderna prática da ordenação cria uma casta especial de cristão. Seja ele sacerdote no catolicismo ou pastor no protestantismo, o resultado é o mesmo: O ministério mais importante restringe-se a uns poucos crentes “especiais”.
Tal idéia é tão daninha quanto antibíblica. Em nenhum lugar do NT a pregação, o batismo ou a distribuição da Ceia do Senhor restringe-se aos “ordenados”. O eminente erudito James D. G. Dunn esclarece melhor este ponto quando diz que a tradição clero-leigo contribuiu mais para minar a autoridade do NT do que a maioria das heresias!

Na medida em que alguém poderia desempenhar certa função na igreja através do rito da ordenação, o poder de ordenar passou a constituir o ponto chave no que diz respeito à autoridade religiosa. O contexto bíblico se perdeu. E passou-se a utilizar métodos de comprovar textos para justificar a hierarquia clero-leigo. O crente comum, geralmente inculto e ignorante, ficou a mercê do clero profissional! (...)

Embora os reformadores se opusessem ao Papa e sua hierarquia religiosa, eles fizeram vista grossa com respeito ao ministério que eles herdaram. Eles acreditavam que o “ministério” era uma instituição restrita àqueles poucos que foram “chamados” e “ordenados”. Assim, pois, os reformadores reafirmaram a divisão clero-leigo. Apenas na retórica os reformadores ensinavam que todos os crentes eram sacerdotes e ministros, na prática o negaram. Pois quando toda fumaça da reforma se dissipou, nos deparamos com a mesma coisa que os católicos nos deram — um sacerdócio seletivo! (...)

Em poucas palavras, a reforma protestante foi um golpe no sacerdotalismo católico romano. Mas não foi um golpe mortal, pois os reformadores preservaram a regra do Bispo único. Este simplesmente passou por uma mudança semântica. O pastor agora exercia o papel do Bispo. Ele chegou a ser conhecido como a cabeça da igreja local — como o principal ancião. Como disse certo escritor, “no Protestantismo, o pregador tende a ser porta-voz e representante da igreja, e a igreja muitas vezes é a igreja do pastor. Este é o grande perigo e a grande ameaça à religião cristã, a incoerência clerical”. (...)

O moderno pastor prejudica não apenas o povo de Deus, ele prejudica a si mesmo. A posição de pastor de uma forma ou de outra atrofia os que assumem essa função. As freqüentes depressões, vazio, estresse, e o desequilíbrio emocional são terrivelmente constantes entre os pastores. Nesse momento há mais de 500 mil pastores servindo nas igrejas nos Estados Unidos.

Deste grande número, considere a seguinte estatística que revela o perigo mortal da posição de pastor:

94 % sentem-se pressionados a ter uma família ideal.
90 % trabalham mais de 46 horas por semana.
81 % reportam uma insuficiência de tempo com seu cônjuge.
80 % crêem que o ministério pastoral prejudica a família.
70 % não têm o que se considera um amigo íntimo.
70 % têm menos auto-estima agora do que tinham quando entraram no ministério.
50 % sentem-se incapazes de cumprir as necessidades de sua posição.
80 % estão desanimados ou tratando de uma depressão.
40 % reportam sofrer pela timidez, horários frenéticos e falsas expectativas.
33 % consideram o ministério pastoral um perigo para a família.
33 % consideraram renunciar suas posições durante o último ano.
40 % das renúncias pastorais devem-se ao vácuo (a chama se apagou).


Espera-se que a maioria dos pastores exerça 16 tarefas simultâneas. E a maioria acaba pulverizada pelas pressões. Por esta razão, mensalmente, 1.600 ministros entre todas as denominações nos Estados Unidos são demitidos ou são forçados a renunciar. Durante os últimos 20 anos a média do pastoreado reduziu de sete para pouco mais de dois anos! (...)

O pastor moderno é o elemento mais inquestionado no cristianismo moderno. Mesmo assim ele não tem uma única linha nas Escrituras que justifique sua existência, nem uma folha de figueira para cobri-lo!

Assim, o pastor moderno nasceu da regra do bispado único engendrado por Inácio e Cipriano. O Bispo transformou-se em presbítero local. Na Idade Média o presbítero se converteu em sacerdote católico. Durante a Reforma ele foi transformado em “pregador”, “ministro”, e finalmente em “pastor” — o homem sobre o qual se dependura todo Protestantismo. Em suma: O pastor protestante é nada mais que um sacerdote católico um pouco reformado!

O sacerdote católico tinha sete ofícios durante o tempo da Reforma: Pregar, ministrar sacramentos, rezar pelo rebanho, vida santa, disciplina, ritos da igreja, apoiar pobres e visitar enfermos. O pastor protestante além de assumir todas estas responsabilidades — eventualmente também abençoava eventos cívicos.

O famoso poeta John Milton foi bem preciso quando disse: “O moderno presbítero não é outra coisa senão o velho sacerdote!” Outra versão disso seria: O pastor moderno não é outra coisa senão o velho sacerdote! (...)

Cristianismo Pagão - Frank Viola

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