Para o psicoterapeuta Ageu Heringer Lisboa, líderes evangélicos são vítimas da negligência em relação à própria saúde psíquica.
Qualquer observador do meio evangélico – tanto os "de dentro" quanto os de fora – com um mínimo de isenção sabe que a liderança atravessa um momento de grave descrédito perante a sociedade. Os desmandos de muitos pastores, que se arvoram o direito de gerir as igrejas como extensões da própria casa, e a falta de zelo em manter uma conduta íntegra, são geralmente os caminhos mais curtos para a queda. A crise de integridade que assola o ministério cristão tem causas nem sempre claras, mas seus efeitos estão aí, à vista de todos. O psicólogo e terapeuta Ageu Heringer Lisboa conhece essa realidade de perto. Com experiência clínica de 34 anos, ele tem atendido muitos crentes – e por seu consultório passam também pastores e dirigentes evangélicos. É claro que, por ética profissional, ele não pode pormenorizar casos particulares – mas o quem ele tem visto, em termos gerais, é preocupante. "É um segmento normalmente avesso a buscar ajuda psicológica, por receio de se expor perante os colegas e os liderados", comenta. "Geralmente, os pastores deixam os problemas se acumularem anos e anos, sempre empurrando com a barriga, acreditando que encontrarão a saída sozinhos". Não encontram – e o resultado pode ser devastador, tanto para a vidas pessoal como para o ministério.
Mestre em ciências da religião, escritor e um dos fundadores do Corpo e Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC), Ageu integra a Associação Brasileira de Terapia e Pastoral Familiar e dirige seminários para casais, além de prestar consultoria para grupos ministeriais. Para ele, o episódio bíblico envolvendo o rei Davi e o profeta Natã, que corajosamente denunciou os pecados do monarca, é cada vez mais difícil de se repetir. "Quem aspira ou ocupa posições de comando, junto com os privilégios da posição, deve arcar com o ônus da visibilidade e do lugar que ocupa no mundo das representações sociais", opina o especialista. Ageu Lisboa concedeu a seguinte entrevista a CRISTIANISMO HOJE:
CRISTIANISMO HOJE – Qual a diferença entre integridade e caráter?
AGEU LISBOA – Caráter é o núcleo íntimo da personalidade, um centro irradiador de valores que caracteriza uma pessoa. O caráter expressa uma força espiritual organizadora da psique, uma dada estrutura básica e resistente a mudanças. Quem colocou este assunto no centro de seu sistema de psicologia foi Wilhelm Reich. A estrutura do caráter tem a ver com o "todo orgânico", o biodinâmico marcado pelas vivências prazerosas e por aquelas que causam desprazer; os comandos verbais e condicionadores que recebemos, em especial as mensagens emocionais nos ambientes formativos dos primeiros anos. Já integridade pode ser definida como aquilo que é digno de confiança, que se apresenta completo, sem maquiagem, com o melhor de sua natureza. Aplicados em humanos, seria uma qualidade moral positiva, que faz a pessoa agir segundo a verdade e se orientar com justiça. Não quer dizer.
Então, o que faz uma pessoa ser íntegra?
Ser acolhido e educado num ambiente amoroso e justo é o maior estímulo, sem dúvida. Receber uma formação espiritual em que se aprenda a conviver com limites e partilhas. À medida que deixamos a infância, espera-se que caminhemos rumo a uma maturidade psíquica e política, assumindo plenas responsabilidades por nossa vida. Viver se traduz, assim, por escolhas e respostas que carregam sentidos e valores, gerando efeitos sobre os outros e em nós mesmos. Em todo o tempo, estamos nos comportando ativa ou passivamente. Se somos pouco conscientes, predominará o instinto e o automatismo; então, coisa boa ou má poderá sair daí. Como membros da raça humana, pertencemos a um habitat que gera exigências éticas sobre todos. Não podemos ignorá-las e agir segundo nosso próprio desejo ou vontade particular, desconsiderando outros, pois nem ao menos nos fizemos a nós mesmos – somos construídos e vivemos articulados socialmente, reconhecendo e honrando o laço social. Assim, contribuiremos para a paz e a justiça.
A vida religiosa e o Evangelho, mais especificamente, são uma maneira de se alcançar um nível moral mais elevado?
Não e sim. Religiosos de tempo integral, de todas as religiões, preservam culturas, servem às populações e são depositários de muita confiança popular. Mas têm lá seus problemas. Conventos e seminários não são garantia de santidade nem bondade. O Papa Bento XVI tem assumido a vergonha e a culpa por tantos pedófilos na Igreja Católica. No campo protestante e evangélico, temos também nossos porões obscuros. Centros de tratamento de vítimas de abusos sexuais e violência doméstica têm grande presença de pastores entre os violadores. A religiosidade mal instruída, estreita, moralista e fanatizada é uma praga encontrada nas mais diversas expressões ditas religiosas. Os talibãs, excrescência perversa e sádica no islamismo que aflorou nos anos 1980, e os ultra-ortodoxos judeus, que mandaram assassinar o próprio primeiro-ministro israelense Isaac Rabin, em 1995, são irmãos gêmeos. Pastores que pregam cercos espirituais e desrespeitam ostensivamente cultos afros e católicos seguem na mesma linha. Psicologicamente, tudo isso é uma projeção doentia de sombras do coração, associadas à ignorância cultural. Espiritualmente, o processo revela desconexão com o espírito de Jesus Cristo; e socialmente, é questão para a polícia.
Esse é o "não". E por que também pode ser "sim"?
Por outro lado, o evangelho possibilita a integridade quando seguimos no Espírito de Cristo. Jesus é a expressão da nova humanidade – e o evangelho, tal como expresso nos textos bíblicos, traça o caminho da salvação, da via ética, moralmente superior, marcada pela bondade e justiça. Jesus é uma quase unanimidade, positivamente considerado por filósofos e teólogos de outras religiões e pela maioria dos construtores da psicologia como "homem universal", uma encarnação do ideal ético. Ele mostrou-se bem humorado e sábio ao ensinar, acolheu excluídos; foi forte com os duros, festeiro com os que celebravam. Conhecer a Jesus através das Escrituras, meditando em suas palavras e acolhendo seu Espírito, abre-nos ao grande poder de transformação interior e social de cada pessoa.
Por que líderes e pastores ditos "de bem" são excessivamente cobrados quando cometem um pecado e acabam sendo julgados e execrados – alguns, por toda a vida – pela mesma igreja de que sempre cuidaram?
A natureza do trabalho pastoral em sua acepção bíblica original é a de alguém que vive em comunhão com Deus, é instruído nas Escrituras, tem vocação e preparo para cuidar de pessoas espiritualmente desorientadas e ensinar as Escrituras. Os termos "trabalho pastoral e terapêutico" se assemelham semanticamente, significando "cuidado de almas" ou "cura de almas" – o que traz uma exigência ética específica: a de que se mantenham íntegros, moral e profissionalmente. É compreensível essa cobrança pelo lugar que pastores e líderes ocupam no imaginário popular. Sacerdotes, desde tempos imemoriais, supostamente estão mais próximos da divindade ou conhecem o mundo espiritual. Do mesmo modo, se espera que filósofos, juízes e psicólogos apresentem comportamentos coerentes e moralmente sublimes. A sociedade necessita de referenciais de integridade, precisa encontrar pessoas dignas no meio de tanta bandalheira, imoralidade e corrupção. Quando um líder espiritual incorre num pecado grave, tipo adultério ou falcatrua, isso desperta decepção, revolta e angústia entre seus seguidores.
Isso não seria o tal processo de idealização?
Exatamente. E quanto maior a idealização e até idolatria da figura pastoral, maior a tragédia. Importa considerar que esta idealização da persona pastoral, revestida com uma auréola de santidade, definida como portador de uma unção superior, geralmente é fruto de uma construção conjunta entre o pastor e sua comunidade. O pastor, por necessidade narcísica; a comunidade, por demandar um tipo de "pai" santo. E como os líderes vivem a ensinar os demais, devem se cuidar. Este é o sentido de instruções pastorais que Paulo emprega nas suas cartas a Timóteo e Tito. Quem aspira ou ocupa posições de comando, junto com os privilégios da posição, deve arcar com o ônus da visibilidade e do lugar que ocupa no mundo das representações sociais. O pastor, o líder, está numa posição por demais espinhosa e corre até mais riscos devido ao assédio que recebe. Ele é seduzido com elogios, mobilizado para salvar mulheres com carências afetivas, discipular gente rica e poderosa – e é nestas relações que uma aliança escorregadia pode se estabelecer.
A integridade é uma exclusividade dos salvos em Cristo?
Não! Encontram-se boas pessoas, éticas e bondosas, justas e solidárias, em todos os grupos, mesmo entre os ditos "pagãos". Quem duvida do bom caráter de Mahatma Gandhi, por exemplo? E de madre Tereza de Calcutá? O apóstolo Paulo escreve sobre a revelação de Deus em todo o gênero humano, através da criação e na consciência. Na prática, encontramos pessoas não-evangélicas, mas que receberam boa formação familiar, educacional e ética, que são excelentes cidadãos – gente íntegra, amorosa, verdadeiros exemplos de civilidade e maturidade. E, contrariamente ao que desejamos, temos tantos crentes broncos, mal-formados, imaturos, dando vexame na política, na televisão, com deploráveis deslizes ético-morais... Repete-se então o que Jesus teve de dizer aos que se diziam "filhos de Abraão" e se achavam acima dos gentios e com direitos hereditários ao Reino de Deus. Jesus desmontou essa falácia ao anunciar que os verdadeiros filhos de Deus são os que de todo o mundo o recebem pela fé e passam a segui-lo. O Senhor é tão gracioso que concedeu talentos e potencialidades de bondade para todos, em toda parte.
Mas perante alguns setores, "pastor" virou sinônimo de picareta...
Qualquer observador imparcial do campo religioso brasileiro e com sensibilidade cultural e ética se choca diante desse quadro. O joio cresce junto ao bom trigo e há um descompasso entre o inchaço da presença dos 'crentes' na população do país e a questão ética. Autores, como o professor Mendonça, Paul Freston e Robinson Cavalcanti, já analisaram esse fenômeno. A partir da década de
Mas pastores que agem assim são a maioria?
É bom que se diga que os mais de 200 mil pastores evangélicos, ou pelo menos a maioria, são como a população de onde saíram, refletindo sua cultura, vícios e sabedoria. Essa maioria vive com baixos salários, em condições precárias, em meio à violência, sem acesso a saúde, habitação e educação, e nem assim se deixam corromper. O risco maior está com os que buscam os holofotes da mídia, os que desejam a glória de uma grande igreja a seus pés, adeptos do espúrio evangelho da prosperidade – o antigo evangelho de Mamon e Midas.
No romance Crime e Castigo, de Dostoievski, o estudante Raskolnikov mata sua idosa senhoria apenas para conhecer o sentimento divino de ser o mestre da vida e da morte. A busca pelo poder também é uma das principais origens das falhas de caráter dos pastores e lideranças cristãs?
O ser humano é naturalmente atraído pelo poder, seja para bajulá-lo e se beneficiar dos favores de quem manda ou para dominá-lo e ser admirado. José, filho de Jacó, quando ainda imaturo, procedeu provocativamente com os irmãos, colocando-se como o centro da família. Lúcifer ambicionou o poder celestial e sua cobiça resultou na primeira queda. Adão e Eva foram tentados justamente com a oferta satânica de poder saber e ser como Deus – ou seja, almejaram o poder por excelência. Por que existem tantas revistas e programas que enfocam o mundo dos ricos e famosos, senão por esta atração fatal que o poder exerce nos incautos e nos conscientemente ambiciosos? E a história humana não é a história do jogo do poder, num darwinismo onde predomina o mais forte? Não é a lógica do mercado materialista? Não é a prática de nações contra nações? É algo de base instintiva, que a Bíblia chamará de carnalidade. Então, é questão que atinge a todos, incluindo pastores. Lidar com esferas de poder é muito importante e necessário, sendo parte da dinâmica social. A questão é manejá-las com ética, com orientação dos valores preconizados por Cristo, que disse: "O meu reino não é deste mundo". Jesus Cristo criticou os dominadores deste mundo e trouxe outra lógica – a do amor ao próximo, a do espírito de serviço, e não o de poder.
Além da má fé, do abuso de poder e outras coisas, falta também preparo bíblico e até emocional a muitos desses pastores?
Sem dúvida. Outras razões para a má fama de pastores e a suspeita pública que recai sobre eles tem a ver com a patente falta de formação bíblica, teológica e emocional da enxurrada de "autoproclamados" bispos, apóstolos e pastores. Em geral, esses líderes dispensaram a incômoda – para eles – e exigente tradição de formação pastoral que percorria o ciclo do despertamento espiritual, da chamada, do preparo bíblico teológico de anos e supervisão. Dizem que é perda de tempo, que o Espírito Santo dá a inspiração necessária... Não se apercebem o quanto de voluntarismo carnal estão tentando santificar. E esse voluntarismo individualista é muito sedutor. Querem um caminho rápido para o poder espiritual. Curioso que ninguém é chamado para servir entre miseráveis; só existe "chamado" para liderar.
O senhor costuma ser procurado por pastores e líderes evangélicos pedindo aconselhamento por conta de pecados e deslizes no ministério?
Eu faço atendimento clínico há 34 anos. Já atendi dezenas de pastores e pastoras, padres, monges, freiras e seminaristas. Monges e padres são indicados por seus formadores, confessores e superiores, hoje bastante abertos à contribuição profissional de psicólogos e psiquiatras. Fomos chamados a conventos e mosteiros para conversações bastante proveitosas sobe a interface fé cristã, saúde psicológica e vocação. O instituto da confissão no âmbito da Igreja ajuda a prevenir o agravamento de problemas. Já os pastores mostram maior medo – alguns chegam escondidos, pedindo anonimato; outros sugerem atendimento em locais alternativos, como restaurantes, devido ao temor de serem vistos por algum conhecido entrando num consultório de psicoterapia. Eles repetem o procedimento de Nicodemus, que buscou Jesus escondido, com medo dos colegas. Trazem queixas parecidas aos de outras pessoas – mas com maior desconforto, pela culpabilidade exacerbada e temor de julgamento até por parte do próprio terapeuta.
Via de regra, quais são as queixas mais comuns?
Geralmente, os pastores deixam os problemas se acumularem anos e anos, sempre empurrando com a barriga, acreditando que encontrarão a saída sozinhos. Quase sempre, dizem não ter confiança em ninguém – daí o motivo de não buscarem ajuda entre colegas, amigos ou familiares. Quando admitem ter amigos ou confessores maduros, têm vergonha de se expor, preferindo manter uma imagem de alguém, digamos, "normal". Essa posição adoece qualquer um, além de ser hipocrisia. Um dia a casa irá cair, pois o reprimido irrompe de formas incontroláveis; daí ser imprescindível e urgente não protelar e buscar ajuda idônea. É preciso parar de jogar para a platéia e viver pela agenda dos outros; há que se respeitar os próprios limites, reconhecer pecados crônicos e, importante, reforçar o anseio pela cura. Assim, virá a libertação de padrões neuróticos. Este é o caminho para a sanidade, que caminha junto com a santidade: o caminho bíblico para um caráter íntegro, santo, saudável.
A resistência de pastores a buscar ajuda psicológica decorre desses fatores?
Para eles, admitir a necessidade de buscar ajuda psicológica ou psiquiátrica é assumir uma derrota inadmissível. É quase uma negação de fé. Só mesmo quando surta alguém da família, a mulher ameaça abandonar o casamento ou um filho se declara gay é que alguns se rendem à evidência de que a onipotência humana não existe. Sem dúvida, pastores e líderes evangélicos, mais do que outras pessoas, se apresentam, em minha experiência, mais resistentes a buscar ajuda psicológica. Vítimas de uma cultura de medo de julgamento por parte de outros, sentem-se cerceados em sua liberdade de ser gente como qualquer outra pessoa. Muitos caíram nessa armadilha da idealização de figuras pastorais como tendo acesso privilegiado a Deus, como entes superiores e com mais forças para resistir a tentações e coisas tais. Há os que estão submetidos a líderes de congregações moralistas e controladores do dinheiro e das idéias. Para saírem desse aprisionamento, esses pastores precisam buscar ajuda externa com profissionais que conheçam e respeitem sua fé.
E o que pode ser feito?
É urgente que se discuta a formação de seminaristas e a consagração de pastores. Temos pastores demais em igrejas confortáveis e centrais, onde se paga mais; e pastores de menos nas periferias e cidades pequenas, bem como nos lugarejos do interior. Encontramos muitos pastores mal formados, auto-investidos, sem supervisão de colegas, sem dedicação a estudos – são obreiros que nem sabem o que é meditação bíblica, e vivem apenas em ativismo religioso. Homens e mulheres hoje montam igrejas com o intuito de viver das ofertas e dízimos arrecadados dos fiéis. São manipuladores do medo das populações, exploradores dos que buscam, angustiados, respostas bíblicas para suas vidas. Quantos não entraram para o ministério atendendo a um impulso juvenil ou um arrebatamento emocional ao redor de uma fogueira ou para cumprir a profecia de alguém? Líderes imaturos, dirigindo comunidades com dezenas ou centenas e pessoas, é algo muito temerário.
A exemplo dos fariseus dos tempos bíblicos, líderes e pastores extremamente legalistas costumam se esforçar mais para camuflar e esconder suas falhas de caráter. Até que ponto isso pode ser prejudicial, sob o ponto de vista espiritual e emocional?
Esses pastores legalistas incorrem num ato falho de compensação psicológica. Eles tentam se convencer de que são puros e intocáveis, acusando os diferentes de hereges, pecadores ou perigosos. Vejam o caso ilustrado por Jesus – enquanto o legalista pecava ao se vangloriar publicamente de não ser como o publicano, este, quebrantado, pedia misericórdia, confessando-se totalmente indigno. Impressiona tristemente saber como setores que se dizem tão apegados à Bíblia são duros, frios, inquisitoriais com os diferentes, com quem é de outra confissão ou religião. São insensíveis socialmente e até impiedosos com os da própria casa. Tragédias familiares, como o suicídio de filhos, divórcio e fugas, têm acontecido em famílias de lideranças rígidas ou fundamentalistas – além, evidentemente, de escândalos sexuais de arrepiar. Isso só vem confirmar o saber psiquiátrico que relaciona obsessivos por limpeza externa a sofrimentos internos de impureza real ou imaginária.
Que personagens bíblicos podem ser apontados como exemplo de gente marcada por problemas de falta de caráter ou integridade?
Bem, os patriarcas Abraão e Jacó cometeram deslizes e mostraram fraquezas. Assim, errando e acertando, dirigindo-se para Deus, alcançaram a estatura de homens de honra. Davi, o rei sábio, pautou sua vida pelo temor ao Senhor – contudo, falhou muito com a família, com os filhos e os amigos. Devemos lembrar que ele abusou do poder e cometeu pecados horríveis. Acontece que ele teve a oportunidade de ser confrontado por Natã, que corajosamente lhe apontou seus erros. O problema é que boa parte dos líderes religiosos são cercados por bajuladores que encobrem seus erros, numa cumplicidade típica de quem não quer perder os privilégios oriundos da proximidade com o poder.
Natã é um bom exemplo de integridade ministerial?
Sim. Pastores precisam agir como Davi diante de Natã. Suas palavras ao rei possibilitaram que este entendesse e reconhecesse seu desvio, pecado e crime. Davi, caindo em si, arrependeu-se e foi curado da alienação. Naquele momento, ele deixou a prepotência; humilhou-se e recuperou sua credibilidade. Seu arrependimento revelou o que se encontrava no núcleo profundo de sua personalidade: um bom caráter. Davi religou-se ao Deus a quem cantara e adorara na juventude, de forma despojada. O resultado é que hoje citamos seus salmos como Palavra de Deus. Ora, se tratamos a Davi com esta benevolência, porque somos tão cruéis e vingativos com irmãos nossos que cometem deslizes leves ou pecados graves? Consideramos o apóstolo Pedro como um homem cheio do Espírito Santo e também ouvimos suas palavras como sendo Palavras de Deus; no entanto, sua biografia é marcada por incidentes, vacilações, ambigüidades e até mesmo a negação e abandono de Jesus. Mas Cristo o reabilitou, chamando-o à consciência e ao amor incondicional. Além disso, Pedro aceitou a disciplina que lhe foi imposta por Paulo, sem guardar ressentimentos – tanto que, em sua segunda carta, trata admiravelmente bem o colega apóstolo, devotando-lhe toda distinção. Esses exemplos mostram o caminho da perfeição. Somos perfeitos no horizonte escatológico na medida em que no dirigimos para o alvo, no caminho da santificação segundo Cristo, o arquétipo do humano.
Fonte: Revista Cristianismo Hoje
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